
Herbert J. Freudenberger (Alemanha, 1926 – Nova Iorque, 1999) foi o psicólogo que descreveu os sintomas de esgotamentos profissional que levou a cabo um amplo estudo que sobre a Síndrome de Burnout (do inglês burn – queimar-se + out – exterior / queimar-se por completo, esgotamento ou esvaziamento em função do trabalho).
Durante o seu trabalho no atendimento de adictos crônicos em um ambiente profissional que carecia de equipe e materiais, em função da alta demanda emocional caracterizada pelo tipo de trabalho e pelas condições desgastantes (falta de material, demanda excessiva, elevada tensão e aumento da dificuldade), passou a notar em seus colegas um desgaste de humor e uma desmotivação sucessiva no trabalho, sinais de sintomas físicos e psíquicos de exaustão emocional.
Em 1980 publicou um livro que trata sobre o esgotamento profissional com o estresse como teoria de fundo e conceito multifatorial, tornando-se referência para o assunto.
“O trabalhador deixa de investir no seu trabalho e na relação afetiva que dele decorre, aparentemente, torna-se incapaz de se envolver com ele. Leva a pessoa a se descobrir sem recursos para lidar com situações de estresse.” (Maslach, Jackson, 1981).
É uma forma persistente do estresse ocupacional que se torna uma doença crônica, é uma síndrome depressiva decorrente do excesso ou condições extenuantes e estressantes relativas ao trabalho. É um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de trabalho desgastante que demandam muita competitividade ou responsabilidade, o excesso de trabalho é a principal causa, esta síndrome é comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes, como médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas, dentre outros.
A Síndrome de Burnout também pode acontecer quando o profissional planeja ou é pautado para objetivos de trabalho muito difíceis, situações em que a pessoa possa achar, por algum motivo, não ter capacidades suficientes para os cumprir. Essa síndrome pode resultar em estado de depressão profunda e por isso é essencial procurar apoio profissional no surgimento dos primeiros sintomas. O diagnóstico é basicamente clínico realizado através da investigação dos sintomas ou através de inventários padronizados.
Envolve:
- Exaustão emocional;
- Falta ou carência de energia acompanhada de sentimento de esgotamento emocional cuja manifestação pode ser física, psíquica ou uma combinação entre os dois, os trabalhadores percebem que já não possuem condições de despender mais energia para suas atividades por esgotamento de seus recursos.
- Despersonalização;
- Tratar clientes, colegas e organização como objetos, passa a se portar de forma fria, distantes, ao cinismo constante e principalmente a dissimulação afetiva, a se tornar distante, a um endurecimento afetivo e insensibilidade emocional do trabalhador. As manifestações mais comuns são a ansiedade, aumento da irritabilidade, perda de motivação, redução e comprometimento dos resultados e metas de trabalho, redução do idealismo de pertencimento da empresa ou trabalho, alienação constante do meio de trabalho passando pela critica contumaz e do desgosto por não querer se envolver até a completa autoexclusão do ambiente a uma conduta autocentrada (egoísta).
- Diminuição da realização pessoal.
- Sentimento de inadequação pessoal e profissional com tendência de autoavaliação negativa, constantemente passando da critica ao trabalho, as pessoas e ao ambiente para um sentimento de autocrítica e menor valia, diminuição do sentimento de competência que levam a uma frustração e a um sentimento de inadequação de si mesmo para com o espaço de trabalho ou a sua função chegando a sensação de infelicidade e descontentamento geral consigo e com o seu trabalho.
Qualquer trabalhador pode desenvolvê-la, mas o maior risco de incidência e geralmente com mairo intensidades nos profissionais que mantém contato direto no atendimento com outras pessoas especialmente no atendimento a demandas de ordem emocional, psicológico ou situações de trauma, especialmente na tríade clássica dos profissionais de cuidados e de atenção ao próximo que são os mais acometidos: os profissionais de saúde, educação e de segurança pública.
As causas.
A Síndrome de Burnout é uma síndrome multidimensional e suas causas também partem de um escopo multifocal.
- Individuais:
- Pessoas com alta motivação, excesso de dedicação e idealismo elevado com relação ao trabalho, pessoas com maior rigidez de comportamento e maior perfeccionismo.
- Organizacionais:
- Empresas que oferecem pouco apoio organizacional e oferecem condições precárias de trabalho, ambientes com falta de autonomia em empresas opressoras e inadequação salarial, falta de oportunidades de promoções.
- Sociais:
- Ambientes que favorecem o isolamento social dentro do trabalho e a falta de senso de comunidade e de pertencimento a empresa ou ao ambiente, dificuldade ou inexistência de trabalho em grupo, mesmo em equipes multiprofissionais (mas que somente trabalham no mesmo lugar, sem sentimento de equipe e sem interconexão das áreas de conhecimento, trabalhando cada uma de maneira independente).
A interação desses fatores tende a produzir percepção de baixa valorização profissional resultando em Burnout.
A Síndrome de Burnout está descrita na Classificação Internacional de Doenças – CID-10 – Inciso XII – Grupo V – Transtornos mentais e do comportamento relacionado com o trabalho – CID Z73.0 (Sensação de estar acabado (Síndrome de Burnout; Síndrome de esgotamento profissional)
Diagnóstico.
- O diagnóstico da Síndrome de Burnouté feita por profissional de saúde especialista psicoterapeuta ou psiquiatra após análise clínica do paciente.
- O psiquiatra e o psicólogo são os profissionais de saúde indicados para identificar o problema e orientar a melhor forma do tratamento, conforme cada caso.
- Muitas pessoas não buscam ajuda médica por não saberem ou não conseguirem identificar todos os sintomas e, por muitas vezes, acabam negligenciando a situação sem saber que algo mais sério pode estar acontecendo.
- Amigos próximos e familiares podem ser bons pilares no início, ajudando a pessoa a reconhecer sinais de que precisa de ajuda. No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) está apta a oferecer, de forma integral e gratuita, todo tratamento, desde o diagnóstico até o tratamento medicamentoso. Os Centros de Atenção Psicossocial, um dos serviços que compõe a RAPS, são os locais mais indicados.
Mensuração da Síndrome de Burnout.
O instrumento mais utilizado para o diagnóstico é o MBI – (Maslach Burnout Inventory – Maslach, Jacson, 1978) é um inventário auto aplicado com 22 itens exclusivo para a avaliação da síndrome, a partir do modo como o trabalhador vivencia o seu trabalho, sem considerar antecedentes e consequências do processo e parte da análise de duas dimensões (exaustão emocional e despersonalização), incluída a terceira (realização profissional), após estudo desenvolvido em 1993.
Sintomas.
A Síndrome de Burnout envolve nervosismo, sofrimentos psicológicos e problemas físicos, como dor de barriga, cansaço excessivo e tonturas. O estresse e a falta de vontade de sair da cama ou de casa, quando constantes, podem indicar o início da doença.
Os principais sinais e sintomas que podem indicar a Síndrome de Burnout são:
- Cansaço excessivo, físico e mental;
- Dor de cabeça frequente;
- Alterações no apetite;
- Insônia;
- Dificuldades de concentração;
- Sentimentos de fracasso e insegurança;
- Negatividade constante;
- Sentimentos de derrota e desesperança;
- Sentimentos de incompetência;
- Alterações repentinas de humor;
- Isolamento;
- Fadiga.
- Pressão alta.
- Dores musculares.
- Problemas gastrointestinais.
- Alteração nos batimentos cardíacos.
Normalmente esses sintomas surgem de forma leve, mas tendem a piorar com o passar dos dias. Por essa razão, muitas pessoas acham que pode ser algo passageiro. Para evitar problemas mais sérios e complicações da doença, é fundamental buscar apoio profissional assim que notar qualquer sinal. Pode ser algo passageiro, como pode ser o início da Síndrome de Burnout.
Enfrentamento do Burnout.
Objetivos e focos de mudanças multifatoriais para o enfrentamento:
- Indivíduo:
- É o mais comum, a intervenção focada no indivíduo e em suas habilidades comportamentais e cognitivas através da experimentação e do aumento de repertório comportamental para o enfrentamento do Burnout. Trabalhar características pessoais e respostas emocionais frente a situações estressantes, suporte a saúde, qualidade de vida e suporte social. Encaminhamentos a profissionais de saúde, tratamento, desenvolvimento de hábitos saudáveis, rede de apoio e suporte social (familiar e profissional).
- Relação indivíduo-organização:
- Busca a melhoria da comunicação, em geral a comunicação é pouco assertiva no ambiente de trabalho, muito ruído nas comunicações o que interfere muito na produção e na qualidade do trabalho e por consequência interfere negativamente na saúde do trabalhador e no trabalho em equipe de forma saudável, o foco será na correção das disfuncionalidades dessas equipes.
- Organização:
- Foca-se dentro da organização nas ferramentas práticas de gestão organizacional, como o treinamento e na promoção de mudanças das condições físico-ambientais dentro do ambiente de trabalho. Modificação das situações em que se desenvolvem as atividades e o processo de trabalho, buscando e promovendo o aumento do apoio organizacional que tornam o ambiente mais adequado e menos danoso a saúde mental de seus colaboradores.
- Intervenções combinadas:
- Intervenção combinada entre as partes (indivíduo e organização) Visa atender a necessidade de cada pessoa que sofre da síndrome e busca especialmente promover ajustes ambientais para a redução dos estímulos estressores ou a dessensibilizarão a eles. Ambientes com grande variabilidade de estressores que podem causar problemas em muitas pessoas e devem ser manejados para a solução e redução desses agentes estressores com ações de prevenção, promoção e tratamento, especialmente em ações de enfrentamento preventivas através do envolvimento de todos em discussões e reflexões dos problemas e estruturando mudanças. Empresas mais ajustadas e com ambientes menos agentes estressores tendem a ser mais produtivas e consequentemente pela maior e mais sincera adesão e comprometimento de seus colaboradores terem melhores resultados.
Tratamento
- O tratamento da Síndrome de Burnout é feito basicamente com psicoterapia, mas também pode envolver medicamentos (antidepressivos e/ou ansiolíticos). Em geral em estágios iniciais a psicoterapia pode ser diretamente efetiva para a mudança dos agentes estressores e a forma de lidar com eles, regredindo os sentimos, em estágios mais avançados o uso de medicação será necessário, mas somente se os estímulos causadores forem retirados, ou o cliente ficará dependente da medicação e voltará a desenvolver a síndrome tão logo volte a suas atividades. O tratamento normalmente surte efeito entre um e três meses, mas pode perdurar por mais tempo, conforme cada caso. Mudanças nas condições de trabalho e, principalmente, mudanças nos hábitos e estilos de vida.
- A atividade física regular e os exercícios de relaxamento devem ser rotineiros, para aliviar o estresse e controlar os sintomas da doença. Após diagnóstico médico, é fortemente recomendado que a pessoa tire férias e desenvolva atividades de lazer com pessoas próximas – amigos, familiares, cônjuges etc.
- Afastamento do ambiente estressor, muitas pessoas acabam obtendo o afastamento psiquiátrico do trabalho o que as fazem se sentir melhores, essa é uma importante janela de oportunidade para a psicoterapia e o desenvolvimento de repertórios comportamentais mais resilientes para voltar a lidar com situações e ambientes estressantes e principalmente a agir sobre ele ou ter condições de mudar de ambiente.
- Sinais de piora: Os sinais de piora do Síndrome de Burnout surgem quando a pessoa não segue o tratamento adequado e continua exposta ao ambiente e as situações estressantes. Com isso, os sintomas se agravam e incluem perda total da motivação e distúrbios gastrointestinais. Nos casos mais graves, a pessoa pode desenvolver uma depressão, que muitas vezes pode ser indicativo de internação para avaliação detalhada e possíveis intervenções médicas.
Prevenção.
A melhor forma de prevenir a Síndrome de Burnout são estratégicas que diminuam o estresse e a pressão no trabalho. Condutas saudáveis evitam o desenvolvimento da doença, assim como ajudam a tratar sinais e sintomas logo no início.
As principais formas de prevenir a Síndrome de Burnout são:
- Defina pequenos objetivos na vida profissional e pessoal;
- Participe de atividades de lazer com amigos e familiares;
- Faça atividades que “fujam” à rotina diária, como passear, comer em restaurante ou ir ao cinema;
- Evite o contato com pessoas “negativas”, especialmente aquelas que reclamam do trabalho ou dos outros;
- Converse com alguém de confiança sobre o que se está sentindo;
- Faça atividades físicas regulares. Pode ser academia, caminhada, corrida, bicicleta, remo, natação etc.;
- Evite consumo de bebidas alcoólicas, tabaco ou outras drogas, porque só vai piorar a confusão mental;
- Não se automedique nem tome remédios sem prescrição médica.
- Analise como está a sua relação com o trabalho.
- Dê atenção a sua saúde física e psíquica, faça exames periódicos e busque o autoconhecimento.
Outra conduta muito recomendada para prevenir a Síndrome de Burnout é descansar adequadamente, com boa noite de sono (pelo menos 8h diárias). É fundamental manter o equilíbrio entre o trabalho, lazer, família, vida social e atividades físicas.
Leia o texto “Hábitos angulares para uma boa saúde mental” clicando no link abaixo: