
O processo de conhecer a si mesmo, compreender suas emoções, valores, habilidades e limitações é fundamental para o desenvolvimento pessoal e para a tomada de decisões mais conscientes na vida. O autoconhecimento é um processo contínuo, individual e coletivo, não podemos nos esquecer que estamos inseridos em uma sociedade da qual fazemos parte, que dependemos dela para o nosso bem-estar e felicidade e desenvolver habilidades sociais necessárias para lidar e conviver harmoniosamente com outras pessoas é fundamental.
O número de pessoas que têm algum tipo de sofrimento mental tem aumentado a cada dia, seja uma crise pontual, ou mesmo um transtorno mental mais grave ou até mesmo uma dificuldade de se relacionar afetivamente com pessoas ao seu redor, na família, no trabalho ou no seu círculo de amigos, atesta que como indivíduos e como sociedade não estamos aprendendo algumas habilidades socias básicas, inerentes a nossa espécie, habilidades essas que antes nos ajudavam a enfrentar com maior resiliência situações desafiadoras e a aprender com elas, a lidar com situações desafiadoras e conflitos, naturais e desejados da vida e do convívio coletivo humano, aprender, se fortalecer e evoluir com elas,
Embora tenhamos evoluído, a perda de habilidades tão necessárias para uma construtiva e saudável interação social decorrem principalmente do modelo de vida que temos adotado com o desenvolvimento e a modernização, o aumento da polarização de ideias, da violência e o medo têm levado as pessoas a serem cada vez mais superficiais em suas relações, a se fecharem, ficarem cada vez mais sozinhas em seus “espaços seguros”, interagindo e se relacionando online, afastando-se das práticas e dos exercícios sociais coletivos diárias, de compreensão do outro, de ganhos de repertório comportamental, de aprendizagem, de tolerância, de auto ajuste, etc. Adultos e especialmente crianças por não terem sido ensinadas a se relacionar e por se aprofundarem cada vez menos em suas relações, perdem em não aprender e em não desenvolver essas habilidades fundamentais, produtos da convivência social diária, e consequentemente perdem os ganhos e pessoais sociais, produtos dessa interação.
A sociedade atual globalizada pressiona as pessoas cada vez mais, especialmente crianças e adolescentes, a destacar-se rapidamente, a terem resultado financeiro, a mostrarem-se vitoriosos na vida, o imediatismo e a pressão por aparência acima de tudo é fomentada ininterruptamente pelas redes sociais que enganosamente apresentam uma visão de mundo distorcida onde o sucesso e a riqueza são fundamentais para a felicidade e podem ser obtidos a qualquer custo, rapidamente e com pouco esforço e sem a necessidade de outras pessoas.
Os resultados são cada vez mais comuns, um aumento crescente exponencial de problemas de saúde mental, problemas psicológicos, crises e dificuldades sociais diretamente relacionados a inabilidade social, intolerância ao outro, excesso de timidez, egocentrismo, falta de habilidade de interagir com familiares, dificuldade de solucionar o mitigar divergências de opiniões e mesmo de aprender com elas, minando de modo crescente a capacidade de se relacionar, conquistar e manter uma posição profissional por não conseguir sustentar minimamente um relacionamento saudável com seus colegas, de manter um relacionamento sexual afetivo equilibrado.
A perda da habilidade de se relacionar adequadamente pode ser atribuída a uma variedade de fatores, muitos dos quais estão relacionados às mudanças na sociedade e na forma como as pessoas interagem atualmente:
- Novas tecnologias e abuso do uso de mídias sociais: o uso excessivo de dispositivos eletrônicos e a dependência de mídias sociais podem levar as pessoas a se isolarem em um mundo virtual, reduzindo a interação face a face. Isso pode resultar em dificuldades de comunicação e em relacionamentos mais superficiais.
- Estilo de vida acelerado: o ritmo acelerado da vida moderna, com agendas super ocupadas e pressões constantes, pode fazer com que as pessoas tenham menos tempo e energia para investir em relacionamentos significativos.
- Falta de habilidades sociais: algumas pessoas podem não ter desenvolvido habilidades sociais eficazes devido a experiências passadas, falta de oportunidades para praticar ou uma ênfase excessiva em interações online em detrimento das habilidades sociais interpessoais.
- Individualismo exacerbado: em algumas culturas, o individualismo excessivo pode levar as pessoas a priorizarem seus próprios interesses em detrimento das relações interpessoais. Isso pode resultar em dificuldades para construir e manter relacionamentos saudáveis.
- Medo da rejeição e vulnerabilidade: o medo da rejeição e a relutância em se abrir emocionalmente podem inibir a formação de conexões genuínas. O receio de ser vulnerável pode levar as pessoas a manterem distância emocional e a falta ou pobreza do convívio social atual levam as pessoas a cada vez mais se sentirem vulneráveis ao julgamento das outras.
- Falta de empatia: a falta de empatia pode ser um obstáculo significativo para a compreensão e a construção de relacionamentos. O egocentrismo e a falta de consideração pelos sentimentos dos outros podem prejudicar a conexão interpessoal. Algumas pessoas podem enfrentar estigmas sociais, discriminação ou isolamento, o que pode dificultar a participação ativa em relações sociais.
- Mudanças nas dinâmicas familiares: mudanças nas estruturas familiares e nas dinâmicas sociais podem afetar as habilidades de relacionamento das pessoas. Isso inclui o aumento de famílias monoparentais, trabalho excessivo dos pais e menor tempo dedicado à interação familiar. Algumas famílias servem aos filhos sem lhes ensinar as habilidades básicas cotidianas fundamentais, a buscar aquilo que desejam ou a como construir relações positivas e saudáveis uns com os outros, enquanto os filhos horas intermináveis em frente a jogos eletrônicos com pobreza de contato e interação social.
- Aumento do estresse e problemas de saúde mental: o estresse crônico, a ansiedade e outros problemas de saúde mental podem afetar negativamente as habilidades de comunicação e a disposição para se envolver em relacionamentos interpessoais.
A falta de habilidades sociais pode ter vários impactos negativos na vida de uma pessoa:
- Dificuldades nos relacionamentos e isolamento social: a incapacidade de se comunicar efetivamente, expressar emoções de maneira assertiva ou de lidar com conflitos pode levar ao desenvolvimento de relacionamentos problemáticos e consequentemente isolamento social. Pessoas com habilidades sociais limitadas podem se afastar ou serem afastadas de pessoas, se sentir isoladas e enfrentar dificuldades para fazer novas amizades ou participar de grupos sociais.
- Dificuldades na resolução de conflitos: a incapacidade de resolver conflitos de maneira construtiva pode levar a situações prolongadas de tensão e desgaste nos relacionamentos.
- Problemas no ambiente de trabalho: no ambiente profissional, a falta de habilidades sociais pode prejudicar a colaboração, a comunicação eficaz, limitar as oportunidades de relacionamentos, colaboração eficaz e o avanço e a progressão na carreira.
- Problemas de saúde mental: a dificuldade em lidar com situações sociais pode contribuir para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e baixa autoestima e autoconfiança.
É importante trabalhar ativamente para fortalecer as habilidades sociais e a capacidade de construir relacionamentos significativos. Isso pode envolver práticas como desenvolvimento de habilidades sociais, assertividade na expressão e comunicação, conscientização sobre o correto e moderado uso das tecnologias, busca de apoio psicológico quando necessário e principalmente a promoção de uma cultura que valorize a conexão humana. Devemos ressaltar que, não é somente desejável, é fundamental interagir socialmente e se adaptar ao mundo atual, fazemos parte de uma sociedade e quanto mais nos afastamos do convívio com as outras pessoas menos adaptadas e menos habilidades estaremos desenvolvendo, uma desenvolução de competências e habilidades e um enfraquecimento de funções cerebrais necessárias para uma boa saúde mental ocorrerá, muito será perdido, não estamos falando apenas de não conseguir conversar, se expressar ou se aproximar de alguém, estamos falando de perdas orgânicas, neuro funcionais.
Aprender as habilidades necessárias para sentir, ser capaz de lidar com situações difíceis, criar um estilo de vida positivo e reforçador onde se possa prevenir sofrimentos possíveis e a lidar de maneira adequada e construtiva com sofrimentos inevitáveis, é fundamental, especialmente na primeira infância, mas quando isso não ocorre adequadamente, chegamos a idade adulta disfuncionais, com o senso de orientação prejudicado, nos comportando inadequadamente e sequer temos consciência de como isso ocorre.
Sem ter clareza do que sentimentos, dos nossos limites e necessidades, somos incapazes de nos comunicar adequadamente, desconectados de nós mesmos, criamos erroneamente maneiras próprias inadequadas de nos comportar com a qual vamos nos habituando ao longo da vida, indiferentes a isso vamos sobrevivendo por um caminho confuso e de muitas repetições por vezes dolorosas.
O melhor caminho seria auxiliar crianças e jovens, através de suas famílias e sua rede de apoio ou de um profissional da psicologia, a conquistarem uma maior consciência de si mesmos e autoconhecimento. Quando o comportamento disfuncional já está estabelecido, especialmente em adultos, a psicoterapia poderá ajudá-lo a compreender e agir sobre seus comportamentos disfuncionais, a mudar hábitos arraigados promovendo um maior bem-estar pessoal e para as pessoas a sua volta.
A busca do autoconhecimento promove muitos benefícios para o indivíduo, é uma jornada contínua que oferece inúmeros benefícios para a qualidade de vida, relacionamentos interpessoais, sucesso pessoal e bem-estar emocional:
- Autoconsciência superior: conhecer a si mesmo envolve estar ciente de seus pensamentos, emoções, valores, habilidades, fraquezas e comportamentos. Essa consciência permite que você compreenda melhor como você reage a diferentes situações e como suas ações afetam os outros.
- Tomada de decisão mais assertiva: o autoconhecimento ajuda na tomada de decisões mais informadas. Ao entender suas motivações, metas e valores, você pode fazer escolhas alinhadas com sua verdadeira essência, o que geralmente leva a decisões mais gratificantes e significativas.
- Relacionamentos mais saudáveis: conhecer a si mesmo é crucial para construir relacionamentos saudáveis. Isso permite que você comunique suas necessidades, compreenda as dos outros e estabeleça limites eficazes. Relacionamentos mais autênticos e profundamente conectados são frequentemente construídos sobre uma base de autoconhecimento mútuo.
- Crescimento pessoal: o autoconhecimento é essencial para o crescimento pessoal. Ao identificar áreas em que você pode melhorar, pode trabalhar ativamente para desenvolver novas habilidades e superar desafios. Isso cria uma jornada contínua de autodesenvolvimento e aprimoramento tanto na sua vida pessoal quanto na sua vida profissional.
- Gestão do estresse: compreender suas reações ao estresse e identificar suas fontes permite que você desenvolva estratégias eficazes para lidar com as pressões da vida. Isso pode incluir a prática de técnicas de gestão do estresse, como meditação, exercícios físicos ou outras atividades que promovam o equilíbrio emocional.
- Autoaceitação: o autoconhecimento leva à autoaceitação. Reconhecer suas qualidades positivas e aceitar suas imperfeições cria uma base sólida para construir uma autoestima saudável. O que não significa se aceitar como é, você deve lidar ativamente para corrigir seus erros e se desenvolver para se tornar uma pessoa melhor todos os dias.
- Objetivos claros: ao conhecer seus valores e paixões, você pode estabelecer metas que estejam alinhadas com o que é verdadeiramente importante para você. Isso aumenta a motivação e a probabilidade de alcançar esses objetivos e de se realizar com eles.
- Adaptação a mudanças: em um mundo que está constantemente mudando, o autoconhecimento permite que você se adapte mais facilmente às mudanças. Saber como você reage às mudanças e entender suas próprias habilidades de resiliência pode ser valioso em situações de transição, quanto mais mentalmente flexível você puder ser menor serão suas dificuldades em se adaptar a situações e a acompanhar as mudanças do mundo.
A busca pelo autoconhecimento está ligada ao desenvolvimento de habilidades sociais que se referem ao conjunto de comportamentos, atitudes e competências que permitem que uma pessoa interaja eficazmente com os outros em diferentes contextos sociais. Essas habilidades desempenham um papel crucial na construção e manutenção de relacionamentos saudáveis e bem-sucedidos:
- Comunicação eficaz: expressar pensamentos, sentimentos e ideias de maneira clara e assertiva, além de ouvir atentamente os outros.
- Empatia: entender e compartilhar os sentimentos dos outros, demonstrando compreensão e consideração pelos seus pontos de vista, mesmo quando não estiver de acordo.
- Resolução de conflitos: habilidade para lidar com conflitos de maneira construtiva, procurando soluções que beneficiem ambas as partes envolvidas.
- Assertividade: expressar opiniões, necessidades e desejos de maneira direta e respeitosa, sem ser agressivo ou passivo.
- Colaboração: trabalhar efetivamente em grupo, contribuindo para objetivos comuns e respeitando as contribuições dos outros.
- Autocontrole emocional: gerenciar emoções de maneira saudável, evitando reações impulsivas e comportamentos prejudiciais.
- Habilidade de iniciar e manter conversas: ser capaz de iniciar e manter uma conversa de maneira natural e agradável.
- Respeito às diferenças: aceitar e respeitar a diversidade de pensamentos, culturas e perspectivas.
Desenvolver autoconhecimento e habilidades sociais é um processo contínuo que envolve tempo e dedicação, procurar orientação e acompanhamento de um profissional da psicologia pode enriquecer a sua vida pessoal, social e profissional.